[Viver de música #5] o que significa ser profissional
e porque a gente tem um medo danado disso.
Quando eu comecei há 16 anos atras, era quase impossível encontrar algum guia ou direção para poder fazer música profissionalmente. Era comum ouvir que “música não da dinheiro” ou que “só da pra viver bem se você for muito famoso”. A impressão que eu tinha era a de que não dava nem pra considerar a música como profissão, afinal, tinha muito mais a ver com um chamado espiritual, vocação e talento.
Quem me conhece sabe que eu não sou muito de acreditar em talento, porque eu acho esse conceito por si só excludente, diminuidor de méritos e privilégios, como se ser bem sucedido fazendo música tivesse a ver com uma loteria do universo que premia algumas pessoas, e não com lógicas racionais de trabalho e privilégio.
Imagina estudar durante anos pra alguém te ver tocando e dizer “nossa que talentoso”. Ou pior, achar que o sucesso de um artista tem exclusivamente a ver com seu talento extraordinário e nem um pouco com os privilégios que ele talvez tenha tido.
Ter vivido anos como artista independente e um tanto de outros anos no caminho da fama, me fez perceber que estamos inseridos em um mercado pouco profissional e muito romântico. A gente é acostumado a tratar a profissão musical como algo pertencente ao mundo dos sonhos, da fantasia, e não no lugar de estratégia, execução e profissionalização.
É mais fácil romantizar a profissão e culpar o universo pelo seu possível fracasso ou sucesso, do que aceitar que música é como qualquer outra profissão, demanda investimento, tempo e dedicação. E também como qualquer outra profissão é extremamente facilitada por privilégios e dinheiro.
Quando a gente começa a olhar para o nosso ofício como artistas da mesma forma que olharíamos para a construção de qualquer outra carreira, fica mais fácil e menos dolorido lidar com algumas frustrações do caminho. Fica mais claro também que é preciso criar estratégias para chegar nos seus objetivos, mensurar os resultados que você teve, analisar porque algumas coisas não deram certo e entender que as coisas levam tempo.
Saiba cobrar pelo seu trabalho.
Entender que o que você faz tem valor vai fazer os outros enxergarem esse valor também.
Seja pontual e cumpra os prazos e promessas que estabeleceu.
Entenda sua base de fãs como clientes, que apesar de nem sempre terem razão, estão esperando serem tratados com respeito e carinho.
Não tenha vergonha de se colocar como alguém que faz música, não tenha vergonha da sua profissão.
Pode ser que você ainda não ganhe dinheiro do que faz mas isso não te torna menos profissional. As coisas levam tempo.
Esse espaço se chama Viver de música porque eu acredito que é possível fazer da música sua profissão. Não necessariamente algo que vai te deixar famoso ou milionário, mas uma possibilidade viável pra você viver bem das suas criações.
Mas me conta, você também ja teve que ouvir de alguém “ta, mas com o que você trabalha?” quando você disse que era músico?
🌍 Para ouvir, ler e assistir
The White Stripes - Elephant, essa semana comprei esse disco em vinil e relembrei porque o WS é uma das minhas bandas favoritas até hoje. Ele foi inteiro gravado em uma mesa de 8 canais, porque sim. É visceral, lírico e tem um dos maiores hits da humanidade.
Esse texto do PASSAGEIRO, a newsletter do
que fala de um atleta que teve que amputar parte do dedo para estar nas olimpíadas me fez pensar até onde eu iria para realizar um sonho profissional. Meio assustador, meio inspirador.Sopranos, a série. Terminei ontem e ainda estou em choque com o que foi feito nessa série. Tranquilamente a maior da história e influência pra tudo que veio depois e que a gente tanto ama (de Breaking Bad a House of dragons). Tem na MAX.
Até a próxima.
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Vocês que trabalham com música são no mínimo corajosos por tudo o que enfrentam...essa última frase já vi uma amiga comentar que falaram pra ela e é no mínimo preconceituosa...mas o que importa é não desistir e mostrar pro mundo que é possível sim viver de música
Mais uma edição incrível, meu caro. Não quero viver de música (quer dizer, eu super gostaria, só não tenho talento para tal haha), mas tô adorando a newsletter. Ah, e obrigado pela citação.