Sempre fui muito fã do Oasis. Meu amor pela banda começou na adolescência, ali nos arredores de 2004, 2005. Lembro de ouvir “Wonderwall”, “Champagne supernova”, “Live forever” repetidamente, com aquela sensação de estar conectado a algo maior. O Oasis tinha esse poder que pouco artistas tinham pra mim, essa aura.
Embalado por esse sentimento, em 2006, o jovem Pe Lu teve a chance de ver esse fenômeno ao vivo. Só consegui entender por completo a catarse que vivi ali nas quase 3 horas de show no estacionamento do Anhembi sob chuva intensa depois de mais velho. Ter vivido aquilo foi pedra fundamental para que eu quisesse ter uma banda, arrisco dizer que um dos momentos que solidificaram a minha relação de amor e devoção com a música.
Quase 20 anos se passaram desse dia no Anhembi, 15 desses anos marcados pelo hiato da banda e uma chance quase nula de retorno.
No entanto, algumas separações, uma suposta reconciliação familiar e uma proposta milionária (falaram em adiantamentos de 100 milhões de libras), foram o bastante para que os irmãos Gallagher decidissem se reunir para uma turnê, causando comoção mundial aos moldes da Eras Tour (só que pra homens de meia-idade kkkrying).
Foram 700 mil pessoas numa fila pra pagar algumas centenas de libras em qualquer ingresso que sobrasse dos 17 shows anunciados (todos no Reino Unido e Irlanda).
Tudo esgotado em poucas horas da abertura das vendas. Mais alguns shows adicionados. Tudo esgotado de novo.
God save the queen!
E bom, anos depois, estou com ingressos comprados para vê-los novamente, dessa vez em Edimburgo, no ano que vem.
Mas essa euforia toda e esses valores bilionários de turnê me fizeram refletir sobre o mercado de música ao vivo no Brasil e como ele mudou ao longo do tempo, especialmente para os artistas independentes. Infelizmente pra pior.
Mantendo o grande esquema das coisas em que “e o rico cada vez fica mais rico, e o pobre cada vez fica mais pobre”.
Se por um lado artistas como Oasis, Taylor Swift, Beyonce, com sua grandiosidade, continuam a atrair multidões ao redor do mundo, por outro, a maioria dos músicos enfrentam dificuldades cada vez maiores para sobreviver de sua arte.
A pandemia mudou drasticamente o cenário da música ao vivo. Durante dois anos, vimos shows e festivais serem cancelados, adiados ou transformados em eventos virtuais. Quando as apresentações finalmente voltaram, o mercado se deparou com um aumento significativo nos custos de produção: aluguéis de espaços, taxas de transporte, montagem de palco, tudo ficou mais caro.
Para artistas independentes, que muitas vezes bancam suas próprias turnês, isso se tornou um fardo quase insustentável.
Como continuar tocando e levando sua música para as pessoas quando o custo de cada show só aumenta e o público diminui?
E aí entra o boom dos festivais no Brasil.
Para o público, um festival representa uma oportunidade de ouro: pagar por um ingresso e assistir a vários shows em um só lugar. Mas para os artistas menores, o impacto é diferente. Apesar da maioria desses eventos terem algum espaço para artistas emergentes, no geral, são lugares de pouco destaque, com estrutura diminuta e, muitas vezes, sem cachê.
O público, cada vez mais acostumado a grandes eventos, parece menos interessado em shows solo. Além disso, os ingressos desses festivais, com preços muitas vezes proibitivos, acabam limitando o público que poderia optar por shows menores, mas que escolhe investir tudo em um único festival.
A pergunta que fica é: esses festivais realmente ajudam ou apenas mascaram um mercado saturado?
Outro ponto de reflexão é o impacto das grandes turnês internacionais no Brasil. Esses eventos são espetaculares, sem dúvida, mas essa enxurrada de shows não acaba sufocando os talentos locais?
Grandes turnês monopolizam os principais palcos e a atenção da mídia, deixando pouco espaço para que artistas brasileiros consigam se destacar. Não estou dizendo que esses eventos não são importantes – como fã de vários desses artistas, sei o quanto eles são emocionantes – mas é preciso pensar sobre o impacto que causam no ecossistema da música local, especialmente quando as grandes produtoras de evento do país seguem investindo majoritariamente em turnês internacionais que tem quase nenhum espaço para artistas nacionais.
E claro, o streaming também tem um papel fundamental nesse novo cenário.
Ele não substitui a experiência ao vivo, mas cria uma nova realidade: os ouvintes estão cada vez mais acostumados a ter acesso à música de forma rápida e conveniente, mas a maior parte dos artistas brasileiros ainda não desvendou como transformar ouvintes mensais e hype virtual em ingressos vendidos. Falei mais disso aqui.
Diante de todas essas questões, uma coisa fica clara: a sensação de um mercado musical próspero e lucrativo é falsa, pelo menos pra realidade da grande maioria dos artistas.
Os desafios são grandes, especialmente para os artistas independentes, que precisam lidar com os altos custos, a mudança de comportamento do público e a concorrência com grandes eventos. E fica cada vez mais evidente que o único caminho é cultivar sua base de fãs e tentar ao máximo se conectar profundamente com as pessoas, afinal, o que artista precisa é de ingresso vendido.
Mas me conta, como andam os shows ai perto de você?
🌍 Para ouvir, ler e assistir
Acústico MTV do Oasis que é um desses episódios marcantes da briga dos irmãos. Nesse caso, Liam, bêbado, alegou estar sem voz e assistiu tudo de um camarote enquanto Noel levou o show sozinho. Interessante de ver como várias músicas perdem sem a voz do Liam (vale dizer, sou team Liam kkkk).
Texto interessante do “Dia sim, dia não” sobre a suspensão do X no Brasil e as opções que surgiram nesse vácuo, ou a falta delas, né?
Entrevista do Bryan Cranston, o nosso amado Walter White de Breaking Bad, no podcast do Rainn Wilson (The office). Papo bom sobre carreira e criação artística de dois dos maiores personagens da tv americana.
Até a próxima.
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As vezes nem o bolo muda, mas as moscas continuam as mesmas!!!
é uma pena que o mercado não consiga encontrar um equilíbrio no qual os grandes eventos tenham algum espaço para quem está começando ou tem um público menor.