Desde muito novo eu sempre quis ter uma banda de rock.
Minhas primeiras memórias relacionadas a música envolvem a magia de ver um grupo de pessoas no palco tocando instrumentos e movimentando multidões enlouquecidas.
Ainda me arrepia lembrar do primeiro show da minha vida: Linkin Park em São Paulo, com a abertura do Charlie Brown Jr. (que muitos dizem ter AMASSADO os americanos naquela noite, mas isso é papo pra outro texto).
Na noite de 11 de setembro de 2004 o Linkin Park entrava para tocar em um Morumbi lotado. Mas diferente do que se possa imaginar, o público não era formado por roqueiros carrancudos de meia idade, ao contrário, a grande maioria das pessoas presentes naquele dia não batiam seus vinte anos. E como seria diferente se o rock era (sempre foi?) música de juventude?
Digo música de juventude no melhor sentido que esse termo pode ter. O rock, por seu viés transgressor, sempre me pareceu algo que entra na vida das pessoas naquele momento da nossa vida em que a gente esta mais disposto a se rebelar, questionar e quem sabe mudar algumas coisas. Desde os primórdios com a Sister Rosetta Tharpe, passando por Elvis, Beatles, Jimi Hendrix, Guns N Roses, o gênero carrega ares de perigo e transformação, e portanto, uma conexão profunda com as nossas primeiras décadas de vida.
E antes que alguém se incomode, a generalização aqui serve como força argumentativa, é claro que pessoas mais velhas também sempre escutaram rock, eu mesmo fui ouvir minhas primeiras bandas por causa da influência da minha mãe. Mas calma que vou chegar no meu ponto…
Andando 20 anos pra frente nessa história, nesse último final de semana eu tive a oportunidade de tocar no Rock in Rio. É a minha segunda vez no festival que de ROCK só manteve o nome. E eu prometo que esse não é um texto pra criticar o line de artistas do evento ou resmungar que “no passado era melhor”. Até porque, eu não concordo com afirmações como essa.
Na verdade, são idéias assim que criaram esse vácuo, esse afastamento do rock com a juventude e também com outros gêneros musicais, e isso explica muito da falta de renovação do gênero e automaticamente da sua perda de espaço.
E ai vem o trap….
O primeiro dia do RiR foi uma celebração ao gênero, e eu nunca vi um festival tão cheio de gente jovem quanto nesse dia. Adolescentes, recém adultos e mais um monte de crianças com os pais, ansiosos pra ver o headliner e hitmaker Travis Scott, mas também os nossos representantes nacionais Matuê, Cabelinho, Oruan, Orochi, etc.
Se você assistisse ao show dos cariocas sem som, dava pra achar que aquele era o público de alguma banda de hardcore. Rodas punk, sinalizadores acendidos e bagunça. Como eu li em alguma resenha por ai, o clima era “perigoso”, no bom sentido. Aquele perigo e aquela bagunça que só da pra fazer quando você é (desculpe a repetição) JOVEM.
E sabe o que gente jovem faz além de bagunça? Compra ingresso, compra merch, ouve no streaming, é FÃ. Ninguém vai ser mais fã de um artista do que um adolescente apaixonado. NINGUÉM. E ninguém vai renovar e manter um gênero vivo tanto quanto essas pessoas.
Assistindo a alguns desses shows eu comentei com um amigo que aquela molecada toda que estava lá tinha agora novas referências muito claras e muito potentes. Se você tem entre 13 e 20 anos, não tem como sair do show do Cabelinho e não querer de alguma forma fazer parte daquilo. Ou então não ficar eletrizado com uma multidão de pessoas gritando FEIN!FEIN!FEIN!
Confesso que tive um misto de sensações.
Foi satisfatório ver tanta gente nova saindo de casa pra VER MÚSICA AO VIVO. E como alguém que esta há tanto tempo no mercado musical, eu aplaudi de pé o movimento feito por esses artistas e por essa cena.
Por outro lado, me chateia ver o afastamento que o meu gênero favorito de música criou das pessoas. Me chateia pensar que tem um monte de gente que não vai nunca pegar numa guitarra ou pensar em montar uma banda porque o rock segue sendo uma cena fechada, excludente e ainda extremamente sexista, machista, racista.
O Rock in Rio foi um lembrete, ou melhor, um tapa na cara, pra me lembrar que o rock não vai morrer nunca mas que ele precisa aprender rápido uma forma de envelhecer melhor.
Aproveita e me conta qual artista você quer ou vai ver no Rock in Rio 2024.
🌍 Para ouvir, ler e assistir
Disco novo da Suki Waterhouse, se você gosta de Lana Del Rey ou da nova fase da Taylor Swift, nem pensa.
Livro curto e cheio de coisas pra pensar sobre a nossa forma exagerada e megalomaníaca de enxergar a vida. Ele explica três conceitos do arcadismo que a gente consegue trazer como aprendizado para os dias de hoje. Não é sobre música mas me inspirou.
Esse video de 30s falando um pouco sobre o lucro dos executivos do Spotify no último ano. Meio revoltante, meio PQP COMO FAZ PRA MELHORAR NOSSA VIDA DE ARTISTA.
Até a próxima.
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Até as bandas novas de rock que vejo surgindo aqui em Salvador (falo de onde vivo) são de pessoas da minha idade, pessoas velhas. Realmente o Rock enquanto gênero parece que tá esperando todo mundo morrer, não sei. Não ajuda também o fato de muitos antigos heróis (digamos assim) do rock serem completos tapados, idiotas ou terem se mostrado completos fascistas.
Não sei mesmo a solução ou se existe uma. Não sei se a gente tem que deixar aquele papo do rock não morreu e deixar o rock morrer mesmo. Morrer de morte matada para depois renascer.
Em tempo, a banda nova dos meus conhecidos em Salvador é bem divertida e tem um nome maravilhoso de "Meus Amigos Estão Velhos¨. Mais condizente, impossível!
Torço muito pra que o rock volte com tudo ...fique mais evidente...que venham mais bandas com qualidade pra galera consumir com prazer...meio impossível? Amo sonhar 🤣 é tem aquilo né meu espírito velho e ansioso só me deixam ouvir bandas e grupos da minha adolescência porque fico confortável 🤣 sei que vou curtir...ou será que realmente não tem bandas tão boas quanto antes? Fica aí o questionamento...e tô ansiosa pra assistir de casa mesmo kk Katy Perry e Iza ..sexta feira tô grudada na tv..beijo boa semana