[Viver de música #6] as redes sociais estão acabando com seus sonhos
e não vai melhorar.
Quando essa história de fazer música começou pra mim, uns 20 anos atras, a possibilidade de ser bem sucedido sendo artista de música era totalmente atrelada as chances de alguma grande gravadora ou empresário encontrar seu trabalho e investir dinheiro nele.
Sendo um artista independente, as formas que existiam para divulgar seu trabalho eram escassas, e precisavam ser feitas, quase todas, fisicamente. Você podia, por exemplo, “queimar” cds com suas músicas (se você tem menos de 25 anos, esse é o nome que se dava para gravar músicas em um cd de forma caseira) e levar essas cópias para os amigos e pessoas que por acaso estivessem no seu show. Considerando, claro, que você tivesse conseguido juntar uma grana, gravado suas músicas e fizesse shows.
Ou seja, a boa era realmente tentar encontrar algum A&R de gravadora perdido na biboca que você estivesse tocando, e torcer pra ele não jogar teu disco queimado com tanto suor no lixo.
Então, da pra imaginar a euforia que foi o acesso a internet para músicos nessa época. De repente, parecia que todas as pessoas do mundo estavam ao alcance de um clique, e que, finalmente, artistas independentes e com pouca grana poderiam levar sua música para novos ouvintes sem depender de um grande investimento.
Bom, por algum tempo foi assim.
A Restart foi um dos primeiros artistas nacionais a perceber a força dessas ferramentas, e conseguiu sem dinheiro, com acesso discado e usando os falecidos Orkut, Myspace e Fotolog, chegar em centenas de pessoas, que depois viraram centenas de milhares de pessoas, que viraram empresários com dinheiro para investir no aumento do alcance desse trabalho.
O resto é história.
Porém, no caso da internet, o resto é pesadelo, e como não existe free lunch no capitalismo, não demorou para que essas mesmas redes que antes foram espaço de divulgação, e parte (as vezes até prazerosa) do processo de se tornar um artista, nos rebaixassem de produtores e consumidores para produto. Afinal, se você não esta pagando pra usar algo, você é a mercadoria.
Em um espaço muito curto de tempo as redes sociais foram de “importante de se ter como artista”, para “obrigatório de se ter como artista”, para “uma função completamente diferente da que você exerce como artista e que te exige frequência, consistência e praticamente nenhuma garantia de resultado".
A maioria dos artistas que eu conheço tem quebrado mais a cabeça para tentar desvendar o algoritmo e chegar nas pessoas do que pra fazer música/arte. E esse é nosso maior dilema, afinal, se você não tem um público que financia sua criação, vai ser insustentável criar.
E aqui trago alguns pontos importantes de serem pensados.
Vai ser cada vez mais difícil atingir novos públicos sem dinheiro. Entender isso rápido vai te ajudar a não se sentir tão frustrado com a falta de resultado das redes sociais e permitir que você se organize para investir dinheiro nisso (caso seu objetivo seja esse).
Redes sociais são empresas privadas que vivem sob o prisma do lucro. Querer ter algum controle sobre a forma como elas mudam sua usabilidade, entrega e etc só vai te deixar doente. Acreditar em formulas milagrosas e pessoas que “quebraram o código” também.
O algoritmo é um ser vivo e mutante, desencana de tentar desvendar seus movimentos. O melhor caminho ainda é tentar criar conexões reais com as pessoas e encontrar formas de se comunicar com elas o mais direto possível. Lista de emails pode ser uma possibilidade. Redes como o Patreon e o Substack também podem ser um respiro algorítimico e um canal mais direto com sua audiência. Pelo menos por enquanto.
Ter milhões de seguidores e/ou ouvintes mensais não necessariamente significa que você tem fãs. Números na tela podem ser só números na tela. Falei um pouco disso aqui.
Se você estava esperando uma solução, me desculpe, mas eu não acho que ela exista, pelo menos não uma simples. Porém, a gente deve seguir debatendo, questionando e se juntando como artistas para cobrar que essas empresas sejam melhor reguladas e trabalhem para que seus espaços sejam mais humanos e respeitosos com as nossas criações.
O mundo nem sempre foi assim e com certeza não continuará assim pra sempre.
E aproveitando o embalo da suspensão do X no Brasil, me responde um negócio:
Como você divulgaria seu trabalho se todas as redes sociais acabassem?
🌍 Para ouvir, ler e assistir
Oasis - Definitely Maybe, primeiro disco da minha banda favorita completou 30 anos e eles lançaram uma versão deluxe que conta com as primeiras gravações das músicas que foram posteriormente descartadas. Muito interessante ver as pequenas mudanças de melodia e arranjo entre as versões que mudam TUDO no resultado final.
Texto do Olhar criativo, newsletter que eu acompanho e recomendo. Papo interessante sobre disciplina e inspiração que reforça várias coisas que eu acredito sobre os processos criativos.
Entrevista do Benny Blanco, que é além de ser o namorado da Selena Gomez é um dos maiores compositores e produtores da história do pop. Papo leve e cheio de insights interessas e inspiradores.
Até a próxima.
Muito bom esse conteúdo, de fato eu busco criar conexões com as pessoas que se identifiquem com a proposta artística que eu tenho.
meudeus, a ousadia dessa imagem do NERO CD BURNER 🔥
no mais, esses dias eu vi um artista gringo comentando que fez X dinheiros em um ano com um release no spotify... depois comparou com um novo release só no bandcamp e ele fez simplesmente 10X. eu tava pesquisando exatamente sobre as remunerações do spotify, bem na época que eles estavam fazendo demissões em massa (eu infelizmente vi de camarote a situação, por questões da vida). se vc quiser, eu caço o vídeo do gringo no meu histórico do youtube - lembro que ele fez uma análise bem completa da situação.